quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sol, Mar, Café, Pastéis de Nata e pouco mais....


De segunda a sexta, na Antena 1, uma das minhas rádios de eleição excepto quando transmite os debates com o governo a partir de S.Bento, pela manhã, passa uma pequena rubrica designada  "Portugueses no Mundo", conduzida pela jornalista Alice Vilaça, e que vai ao encontro de portugueses que estão espalhados pelas sete partidas do mundo, e que normalmente fazem  parte da "nova emigração". Essa rubrica procura indagar, em jeito de conversa informal, o que levou esses portugueses a partirem em busca de uma vida diferente, de novos desafios pessoais ou profissionais, ou de melhores condições de vida. Não se trata de emigrantes formatados pela matriz dos anos sessenta do século passado. Trata-se de gente jovem, normalmente bastante qualificada em termos académicos, mas a quem Portugal não tinha nada para oferecer. Gente que partiu para fazer mestrados ou doutoramentos, que conseguiu no estrangeiro as bolsas que lhes foram negadas no seu país, gente que concluiu fora essas especializações académicas e que por lá ficou a trabalhar na investigação dentro das  respectivas áreas; mas também gente que concluiu por cá essas qualificações e que, sem nenhuma saída credível, ou que pelo menos não fosse risível, partiu, deixando um rasto de investimento perdido pelo país que deveria ter como primeira pioridade das suas políticas, no mínimo, não malbaratar o seu capital humano.

Já ouvi dezenas de entrevistas destas feitas por Alice Vilaça. Cada entrevistado fala das suas particularidades pessoais, do seu caso, das suas esperanças, das suas desilusões, das suas expectativas para um futuro que se lhes afigura, lá longe, bem risonho. Diria que, em 99% dos casos, poucos são os que ponderam um dia voltar a Portugal para aqui continuarem as suas carreiras profissionais, os seus projectos pessoais, a sua vida. A visão deles é ficarem pelo estrangeiro, nos países que os acolheram e lhes deram uma oportunidade ou demandarem outros países, noutros lugares do mundo. O regresso a Portugal nunca está nas suas cogitações, pelas piores razões.

Quando a jornalista convoca essa palavra tão portuguesa chamada saudade, as respostas são quase sempre invariáveis: da família, da gastronomia, do bacalhau, das sardinhas, do mar, do sol, dos cheiros a Portugal, do café e do pastel de nata. Tirando isso, o país não lhes desperta outras saudades ou sentimentos positivos...

Miseravelmente, Portugal é hoje um país que não sabe cuidar nem de si próprio. Como é que um país assim poderá pois saber cuidar dos seus, do seu povo, dos seus jovens, das suas crianças, de todos os que podiam, e podem, ser uma reserva de esperança para  um presente e um futuro melhores ?

Saudades ? Sim, claro, muitas. Mas não a saudade que os possa levar a cometer o erro do regresso. Isso sim, uma aventura que teria todas as condições para correr mal. 

No seu imaginário mais profundo e básico do território onde nasceram e cresceram, restam a gastronomia, a família, a placidez da aldeia, a luz da cidade, os pastéis de nata, o cafézinho, o sol, os cheiros e o mar... É  só isso que os liga a Portugal, quando daqui partem, os portugueses, na demanda de um futuro diferente, para melhor comparativamente ao que  este país triste e sem rumo ou direcção tem para oferecer aos que aqui nascem e  a ele se devotam .

Jacinto Lourenço