quinta-feira, 20 de junho de 2013

Há Gente Pior que Mosquitos...


Estive afastado daqui uns tempos. Casei a minha filha e fui dar uma volta por aí para não ter que perceber o vazio, assim, de repente, quando ficasse sem ela em casa. Andei pelo Alentejo, de alto a baixo, que é onde regresso sempre que preciso encher a alma e respirar o ar que me cura da nostalgia que hei-de carregar para sempre,  enquanto conseguir conjugar o verbo "respirar". Parei e percorri cidades e vilas perseguido por uma vaga de mosquitos que teimavam em não respeitar repelentes, nem que fossem comprados na farmácia. Eram iguais no alto e no baixo alentejo. Picavam da mesma maneira e deixaram marcas  que me estão a levar um ror de dias a passar. Dizem os mais velhos, os alentejanos que nunca deixaram de respirar o ar alentejano, que é sempre igual, todos os anos por esta altura lá voltam essas criaturas, escuras, pequeníssimas. A verdade é que nunca dei por eles. Ou então andámos sempre desencontrados nas últimas décadas. Também pode ocorrer eu  já não me lembrar como é viver todos os dias no alentejo.

Aflito com os mosquitos que me deixaram, e à minha mulher, o corpo numa lástima, pensei que há pragas que não se afastam de nós com facilidade e nem tão pouco  temem repelentes. Insistem em picar-nos constantemente deixando depois marcas que perduram no tempo.

Acho que certo tipo de gente, como a que ocupa hoje o aparelho de estado, são deste género. Do género  dos mosquitos. Como os mosquitos que me picaram, são gente minúscula, sem dimensão humana,  sem outras causas que não sejam as de picar e chatear  os desprevenidos, sugar-lhes o sangue ou depositar um qualquer verme ou bactéria microscópicos de que só percebemos a existência quando já estamos infectados. Sim são gente infecta que se habituou aos repelentes e até aprendeu a contorná-los, a fintá-los. Enquanto não  conseguirmos proteger-nos vão continuar a sua saga infecciosa. Na verdade, quando damos conta de que nos atingiram já não há muito a fazer. É esperar que passe ou então fazer uma desinfestação geral que os elimine de uma vez por todas dos locais e condições que lhes são propícios; e todos os locais onde há vida lhes são propícios...                                                                                

Como os mosquitos, esta gente sem dimensão humana conta com a nossa passividade para fazer estragos, habituou-se a isso e  irá  voltar sempre: eles, os seus filhos, os seus netos, bisnetos, padrinhos, afilhados ou amigos, se os ventos não lhes forem contrários, irão voltar sempre, como uma praga,  para picar muita gente e deixar o seu veneno a fazer ferida. Reproduzem-se aos milhares. Sendo gente sem dimensão, são especialistas a ocupar o espaço de actuação, formando nuvens de interesses e alvos que lhes são vitais à sobrevivência e propagação.

Desinfestação geral, sim, é o que precisamos.


Jacinto Lourenço